Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Entre o Aqui e o Ali..

A vida faz-nos querer estar em muitos sítios. Ansiamos por amanhã mas desejamos ser ainda ontem.. Queremos ficar aqui mas ao mesmo tempo que sonhamos já estar ali... É a incerteza que nos conduz pela estrada, cheia de curvas, até ao futuro!!

Entre o Aqui e o Ali..

A vida faz-nos querer estar em muitos sítios. Ansiamos por amanhã mas desejamos ser ainda ontem.. Queremos ficar aqui mas ao mesmo tempo que sonhamos já estar ali... É a incerteza que nos conduz pela estrada, cheia de curvas, até ao futuro!!

Juro que às vezes me apetece apertar o pesçoço a alguém

Se há coisas em que sou muito boa a respeitar é prioridades, filas, número de ordem. Se não gosto para mim, não faço para os outros. Respeito quem está à minha frente e quem está atrás de mim.

Mas eis-me diariamente deparada com os Chicos-Espertos da A2, que se metem na faixa da direita como se fossem para Almada e que vão andando/ultrapassando a fila até se enfiarem num qualquer espaço deixado por um condutor desatento, à frente de centenas de carros aguardam pacientemente na fila (por vezes durante horas).

Confesso, rogos-lhes pragas (diarreias, dores no sítio corporal que mais gostem, comichão no traseiro, principalmente pragas como a da cigana " que te dê uma dor, quanto mais corras mais te doa, se parares que rebentes"), apito sonoramente e juro que às vezes me apetece sair do carro e apertar o pescoço aquela pessoa invasora.

Detesto pessoas que se acham importantes, que se acham o máximo da inteligência e da perspicácia (eheh, aqueles parvos já ficaram todos para trás e eu passei-lhe à frente num espaço de minutos). Detesto pessoas que não respeitam o próximo. E a essas pessoas (principalmente às 7h da manhã) eu era capaz de muita coisa, inclusive oferecer-lhes um aperto de pescoço!

Sim, hoje sou uma pessoa má! E revoltada..

Do trabalho

Sempre trabalhei por conta de outrem (mesmo quando trabalhei para a família), já tive muitos tipos de patrões ao longo da minha carreira contributiva - bons, maus, assim-assim, prestáveis, intratáveis, atenciosos, egocêntricos e até desumanos - por isso consigo avaliar com alguma rapidez sempre que me surge um à frente. A maioria tem como objectivo ter sempre razão e mesmo quando não a têm, arranjam maneira de conseguir contornar a questão de modo a que o ónus da questão não fique nas suas mãos. A maioria puxa das suas cordas vocais e dos seus galardões sempre que encontro um erro, um deslize provocado por um dos funcionários. Esquecem a parte humana e encarnam a personagem do "lobo mau". Chego mesmo a considerar que a maioria dos chefes tem um gozo tremendo em encontrar erros, esquecimentos, falhas, atrasos (acho que fazem disso um objectivo quantificável) para logo no momento seguinte nos dizerem - está mal; tem aqui um erro; isso não está certo; não entregou a tempo. Enchem o ego e transmitem a sensação de vitória; mostram aquele sorrisinho (ou não) maquiavélico que traduzido significa - eu sabia que ias meter a pata na poça.

É por isto que estes chefes nunca conseguirão chegar a lideres. É por isso que este mundo não vai a lugar nenhum. Porque os chefes são em número bastante mais elevado que os lideres.

Bem que me apetecia torcer o pescoço a um chefe.. E era já!!!

 

Peditório AMI: Ajudar o Nepal

Começa amanhã mais um Peditório da AMI! Objectivo: ajudar o Nepal e amenizar o sofrimento de todos aqueles que estão a sofrer com mais esta catástrofe natural.
Pelo país irá encontrar voluntários identificados com as cores e os simbolos da AMI a quem pode entregar a sua contribuição. Ajude com o que puder, afinal para aqueles que nada têm qualquer cêntimo vale ouro.
Juntos podemos conseguir colocar um sorriso na boca de muitos seres humanos. Ajude a AMI a ajudar o próximo.

nepal.png

 

As vacinas... ai as vacinas!

Ontem foi dia de vacinas. O primeiro ano já passou e não podia adiar mais este momento (até porque a saúde tem de estar sempre em primeiro lugar). Até completarem o primeiro ano, os bebés recebem as vacinas sempre nas pernocas, mas após esse tempo são os braçitos que começam a sofrer as mazelas. Já me estava a imaginar como é que iria segurar o S., dada a energia que o gaiato tem todos os dias.

Mas eram inseguranças de mãe principiante, pois as enfermeiras que já perderam a conta ao número de crianças vacinadas indicaram no imediato qual a melhor forma de o segurar. O que não estava propriamente seguro era o meu coração. Sabia (calculava) que ele ia chorar imenso, pior que isso, sabia que ele iria entrar naquela espiral chora-tanto-que-deixa-de-respirar-e-fica-todo-roxo e tenho que quase dar-lhe um abanão para que volte a entrar ar naqueles pulmões.E não me enganei. E ainda pior que tudo isso, é que dadas as tipologias das vacinas, foram dadas duas - uma em cada braço, o que implicou passar pelo sufoco duas vezes.

E dói tanto (a nós mães) vê-los a soluçar, a olhar para nós com os olhinhos cheios de lágrimas como quem diz: "mamã, porque deixas que me façam isto..".

É neste momento que o tapete nos foge debaixo dos pés, e por momentos dei por mim a sentir-me uma má mãe por permitir que o meu doce chorasse daquela maneira. Felizmente o cérebro volta a funcionar minutos depois e conseguimos relativizar a situação, afinal a vacinação é um ponto fulcral, que não deve ser descuidado na vida de qualquer criança (e adultos também).

Para o mês que vem lá voltamos nós. Temos a Bexser e a Prevnar. Mais duas juntas..

Mãe sofre..

 

Avó, 21 anos sem ti..

05/12/1993. Lembro-me como se fosse hoje. Tinha 9 anos e um amor imenso por ela. 

Não me apercebi no imediato que tinha sido internada (pelo menos agora não tenho essa noção), mas passados poucos dias de repetidamente a mãe ir para Lisboa, ao Hospital dos Capuchos, fiquei consciente da situação. Na altura a palavra Leucemia tinha tanto significado para mim como uma gripe má, era pequena e não me queriam dizer a gravidade da situação. Num dos dias em que a mãe estava com ela ao telefone, ela quis falar comigo. Disse-me que tinha vindo de um exame, que tinha doído muito, que estava muito fraca. Mas foi o seu pedido que me ficou gravado no cérebro até aos dias de hoje - Reza por mim filha, reza pela avó... Depois de um beijinho e gosto muito de si, o telefone desligou-se. Foi a última vez que ouvi a voz dela. Lembro-me como se fosse hoje.

Todos os dias eu, que ia para a escola de manhã, esperava pelo fim do dia para perguntar à mãe por ela. Todos os dias a mãe ia vê-la. Autocarro, barco e vários Km's a pé até ao Hospital dos Capuchos. Lembro-me de entrar no carro, vê-la chorar e perguntar - Mãe, o que a avó tem é grave? Sim filha, é muito grave. Fiquei de coração apertado. Na escola, contei a algumas amigas minhas que a minha avó estava doente e que a minha mãe tinha dito que era grave. Não sabia explicar exactamente a doença, mas aos 9 anos o termo grave só por si bastava. 

Tinha chegado Dezembro à 5 dias quando, durante a manhã na sala de aulas, alguém bateu à porta. A professora foi abrir e eu vi a minha vizinha de casa. O meu cérebro processou toda a informação muito rápido: os filhos dela não tinham aulas ali, pelo que não haveria outra razão para ela estar ali senão eu; para a razão ser eu, então significava que algo grave tinha acontecido e só podia ter sido com a minha avó. A professora fez sinal que sim, virou-se para mim e disse - V. podes arrumar as tuas coisas e ir com a L.; Sim professora, já sei. Olhei para as minhas amiga e disse - Lembram-se o que vos contei à pouco.... E saí com o coração esmagado.  

Até ao funeral tive duas crises fortes de choro, uma agarrada ao meu pai pouco tempo depois de a minha vizinha me ter levado para casa. Outra, quando entrei no quarto da minha avó. Entrelacei-me nas suas roupas para sentir que ela iria ficar ali comigo, para sempre. Doía muito, ainda para mais para alguém tão pequeno como eu. No funeral nunca me deixaram chegar perto, nem da minha mãe, por quem eu ansiava abraçar. Estive sempre ao longe, sempre com desculpas para todos os momentos. Hoje tenho essa mágoa, mas sei que todos estavam a tentar fazer o que era melhor para mim. 

Passados 21 anos continuo a lembrá-la como a avó que todos gostariam de ter. Dava tudo por nós, para estar connosco. Lembro-me do café das velhas feito nas cafeteiras de alumínio na chaminé de chão; da água sempre quente dentro das panelas de barro; das torradas com toucinho feitas em cima da tenaz junto das brasas do lume enorme; do bolo de mel como nunca mais irei comer um tão bom como aquele; o pão quente acabado de cozer no forno de tijolo (Deus te acrescente e quem te coma não esteja doente..); os presentes no natal; as notas escondidas dentro dos copos; a alegria e os sorrisos; o até amanhã vó - até amanhã netinhas; os abraços e os beijos repenicados. Lembro-me de ela ser feliz connosco e nos fazer felizes.

O que ainda não disse é que, durante muitos anos (e quando digo muitos, são mesmo muitos) achava que eu era culpada por a minha avó ter partido. Tinha 9 anos e eu não tinha rezado por ela, como ela me tinha pedido, no momento em que ela tinha pedido. Durante noites e noites sonhei com ela. Aí rezei. Falei para ela, pedi-lhe que me perdoasse, que gostava de ter voltado atrás e ter pedido a Deus e a Jesus para que ela ficasse boa. Rezei e pedi para que ela ficasse sempre junto Dele, que nunca mais tivesse dores e que fosse feliz. Pedi perdão pela minha falha, mas foi algo que me ficou para sempre marcado no cérebro e no coração.

 

Durante estes últimos 21 anos senti imenso a falta dela, principalmente naqueles momentos mais marcantes, em que gostávamos que todos aqueles que amamos estivessem connosco. Quando terminei a faculdade (agradeci-lhe por ter-me acompanhado naquela conquista); quando casei (disse-lhe que queria que estivesse comigo naquele momento de felicidade); quando fui mãe (pedi-lhe ajuda no parto). Não tenho vergonha em dizer que falo para ela muitas vezes, pois sei que ela me ouve.

Todos os anos o dia 5 de Dezembro é um dia difícil, para mim, para a minha mãe. Hoje, 21 anos depois de a ter ouvido pela última vez, tenho o coração apertado de saudades dela.

Saudades tuas e nossas, querida avó Amélia.

(escrito a 05/12/2014; terminado hoje)

Saudades (de ter tempo)

Hoje tenho o meu coração apertado, doce da minha mãe. Não temos tido tempo um para o outro, tempo que nos encha um do outro, que nos complete as saudades que temos tido. Hoje tenho o meu coração apertado. Sinto a tua falta o dia inteiro, meu amor. Conto todos os minutos para te ver, para poder chegar ao pé de ti, para te cheirar, para te sentir junto ao meu peito. Anseio por chegar a casa para te ver saltar para os meus braços, enquanto ris e dás gargalhadas ao perceberes que eu já estou ali só para ti. Enquanto eu choro de emoção e de alegria e deixo a tensão sair.  

Mas hoje tenho o meu coração apertado, meu bebé lindo. Hoje choraste, querias o meu colo, mas também não querias. Querias que te abraçasse, mas também não querias. Dei-te mama, acalmaste mas qualquer coisa te incomodava e te deixava novamente a chorar. Chegou o pai e conseguiu entreter-te até te ires jantar. Dei-te a sopa.  Dei-te banho. Brincámos um bocadinho mas tu tinhas sono, já fazias birra. Voltei a dar-te mama, mas ela já era tão pouca que ficaste ainda mais irritado. Coloquei-te na caminha e dei-te muitos beijinhos, suaves, como quem beija o mais precioso e mais frágil dos seres. Querias fechar os olhos, mas os meus beijos faziam-te despertar. Bem sei que não devia continuar, que devias descansar, mas a mamã tem tantas saudades tuas.. 

Hoje tenho o meu coração apertado, doce da minha  vida. Apertado de saudades tuas, do tempo que éramos só nós o dia todo, do tempo em que cantavamos, que brincávamos no chão, na cama, na mesa. Tenho saudades do tempo em que não havia tempo limite para estarmos os dois . Agora chego a casa e por mais que seja rápida, entre o teu jantar e o nosso, preparar o teu almoço e o nosso, o teu banho e o ritual de vestir ocupam todo o tempo. Ficamos depois juntinhos enquanto mamas, olho-te nos olhos e tu retribuis; com a tua mãozinha doce e suave vais fazendo festas no meu peito. Bates sempre a perna, como se marcasse o compasso. E a seguir a noite acaba e só nos voltamos a juntar na manhã seguinte. 

Hoje, enquanto os meus olhos transbordam de lágrimas , tenho o meu coração apertado de saudades tuas.  Estás mesmo ao meu lado bem sei, mas a minha vontade é agarrar-te, encher-te de beijos, sentir esse teu cheiro doce que me enche a alma. O tempo não chega para encher as minhas reservas de ti, do teu amor, do teu sorriso, do teu cheiro, dos teus beijos lambusados, do teu toque tão suave. 

Hoje vou  dormir de coração apertadinho de saudades tuas, saudades do nosso tempo,de saudades de nós. 

Dores de Mãe

Após o parto, pensava frequentemente no dia que teria que me "separar" do meu pequeno S. Esse pensamento transformava-se numa angústia miudinha por imaginar as horas longe dele. O coração apertava-se e eu obrigava-me a pensar noutra coisa para desanuviar aquela nuvem negra que se começava a adensar nos meus olhos. É certo que até recentemente não tinha emprego, pelo que (apesar de todas as dificuldades inerentes a tal) era relativamente fácil esquecer o assunto com um simples - Deixa-te disso, nem trabalho tens!!!.

Mas felizmente uma estrelinha brilhou e o emprego apareceu e com ele trouxe o sofrimento da "separação". Forte por fora como só eu sei ser, por dentro estava desfeita em pedacinhos bem pequeninos. As horas de separação iam ser (são)  tão longas (sempre mais de 12h); sem oportunidade de adaptação para mim nem para ele; sem horário reduzido para amamentação; de uma só vez. "Então preparada para o início do trabalho? Agora é que vais ver o que custa..; Claro que sim, não é a primeira vez que vou trabalhar, tenho 6 anos de bagagem..". Mas agora tinha o meu coração noutro sítio e ia deixá-lo! E sim, ia custar e muito, era escusado estarem constantemente a relembrar-me isso, qual seta que atiça a ferida.

No primeiro dia doeu (ui se doeu). A falta do cheiro dele, do riso dele, dos abraços e dos beijos lambusados, dos sons para chamar a atenção. As birras para dormir e o encostar da cabeçinha no meu peito quando quer um miminho mais. A falta dele. As saudades dele... Para quem não é pai nem mãe, ler sobre saudades que até nos provocam dor, pode parecer completamente absurdo. Mas chegamos a sentir mesmo dor física, um aperto no peito que aumenta de intensidade à medida que o tempo de separação aumenta. 

Passadas 13h30 cheguei a casa. Bastou ouvir a minha voz para começar aos saltos. O pai desceu com ele e quando me viu riu, e riu, dava pulinhos de alegria, saltava para o meu colo, apertava-me e ria muito. E eu chorava, enquanto o agarrava; enquanto o apertava e cheirava; enquanto aos poucos ia diminuindo a dor no peito.

Ficámos assim, agarrados um ao outro, a matar saudades um do outro. Cada vez que me afastava, virava-se para todos os lados, fazia beicinho, procurava-me. Só queria o meu colo, o meu abraço, o meu aconchego. Foi assim até cair num soninho descansado.

Quando somos mães, não estamos preparadas para estas situações de separação. Eu diria mesmo que, quando somos mães, nunca estamos preparadas para qualquer situação que nos separe dos nossos bebés. Mas como diz a minha amiga do coração, a vida dos crescidos é mesmo complicada e para lhes darmos o mínimo, também temos de nos afastar deles. Mesmo que tal nos faça sofrer. 

Café das velhas

 

 

....há poucas coisas que nos aquecem por dentro tão bem como uma bela chávena de café "das velhas" (ou de cafeteira) e uns bolinhos de canela.

Humm, que eu só aqui tenho o café e já estou a salivar pelos bolinhos......

Momento MÃE!

Faz hoje 8 meses que foi assim!

 

As últimas semanas de gravidez não tinham mesmo sido fáceis. Depois de tantos dias a correr para o Hospital, deu jeito que durante as duas semanas que antecediam o parto me mandassem ficar em casa, com saída apenas para o CTG rotineiro. Mas quando cheguei lá às 39, disse para a médica que o meu cansaço era já muito forte. Já me era extremamente difícil dormir, não havia posição para estar deitada; sentada; de pé. E ficámos combinadas que na avaliação das 40 semanas, se continuasse igual, faríamos a indução. A varicela tinha-me debilitado muito e eu estava exausta. 

Eram 8h45 entrava no HSB. Identifiquei-me e disse que vinha para a consulta. Passado muito pouco tempo fui chamada - triagem (tensão, pulsação, temperatura) e CTG. Até que apareceu a minha médica e me perguntou como é que estava e se pretendia que avançássemos para a indução. Respondi logo que sim. Já me tinha mentalizado que não voltaria para casa sem o meu pequeno raio de sol nas mãos. Fizemos o internamento e eram 10h estavam a dar-me o primeiro 1/4 de comprimido. Tinha 1cm de dilatação. O caminho ainda era longo.

Até por volta das 14h, as dores que ia tendo eram completamente suportáveis, e foi por essa altura que me deram o outro 1/4 de comprimido. Foi instantâneo o aumento das contracções e da intensidade com que sentia as dores. O F. chegou para a visita e o CTG já marcava com regularidade o ritmo das contracções e eu já respirava fundo. Pouco tempo depois terminou a visita. Despedimo-nos com um até já.

Estava tranquila, mas aquela ansiedade miudinha começava a aparecer lá no fundo do meu ser no preciso momento em que me rebentaram as águas. Senti como se tivessem despejado um copo de água quente debaixo de mim. Chamei a enfermeira que me perguntou se precisava de ajuda. Disse-lhe: "eu acho que as águas rebentaram"; " E acha muito bem, vamos já trocá-la".

Daí para a frente foi sempre a subir - na intensidade das contracções; na ansiedade; no nervosismo. A médica veio-me observar. Dilatação: 2 cm!! - "Sabe V., os partos provocados por norma são mais difíceis no que toca a contracções, mas você está a ir bem". Mas as dores já eram muito fortes e, felizmente, ela tinha um recurso "vou levá-la para dentro e pedir ao anestesista para lhe dar uma sequencial (cara de espanto da minha parte). Esta anestesia é a única que pode ser dada antes de ter atingido o trabalho de parto activo e que não o comprometa. Assim que atingir os 3cm/4cm de dilatação, já podemos dar a epidural." Perfeito, era mesmo o que estava a precisar. Depois de rebentarem as águas, a intensidade e a regularidade das contracções faziam-se sentir cada vez mais. Chamei o F. Estava na hora de o ter ao pé de mim, sempre até o nosso pequeno nascer. 

O caminho entre o internamento e o bloco de partos (feito a andar) pareceu-me uma eternidade (quando foram apenas uns metros). Após estar instalada, levei a anestesia e só tinha de aguardar 10minutos para que a mesma fizesse efeito. E pedacinho por pedacinho fui deixando de sentir as dores. Faltava só uma parte da barriga - a frontal. Mais um bocadinho já vai adormecer. 10minutos e nada, as dores localizavam-se todas ali. 20 minutos, todo o resto do corpo descansava, excepto aquela zona na barriga que sentia todas as dores. Não consegui descansar. Pensei - com a epidural com toda a certeza que esta dor vai desaparecer.

Após 1h e pouco a médica veio-me observar: 4 cm de dilatação. Disse-lhe das dores, ela confirmou: tem uma "janela" onde a anestesia não chegou. Vamos tentar mudar a posição agora na epidural para ver se resulta. Mas não resultou. Com a ajuda da enfermeira parteira estive na bola de Pilatos; na posição à chinês; novamente na bola. Segundo ela aquela janela poderia ser devido ao bebé estar ali mal posicionado. De cima para baixo, de baixo para cima, e já estava nos 6 cm de dilatação e a sentir praticamente as dores todas - "esta bacia é espectacular, por este andar vai parir primeiro que a outra mãe de 3"!! 

Por volta das 22h levei o último reforço de epidural, mas essa então não teve qualquer efeito apaziguador nas minhas dores. As contracções eram seguidas. Fortes. Intensas. Estava nos 8,5cm. Voltei a circular na entre a bola de Pilatos e a marquesa. Passou 1h30m e a dilatação não avançava. O meu amor maior não estava encaixado. Algo se passava. O cordão enrolado no pescoço, um pé preso em algum lado, eram as hipóteses que se colocavam para a estagnação do trabalho de parto. 23h55 e decidimos que o melhor seria ir para a cesariana. 

Lembro-me que entre a sala de partos e a bloco para cesarianas o espaço era curto, mas pareceu enorme. As contracções no seu máximo. A dor. Após a substituição do cateter e assim que começo a levar um novo tipo de anestesia, comecei a sentir o calor na ponta dos pés e a subir-me pelas pernas. Quando deixei de as sentir, percebi o que costumam dizer com - chegar ao céu - quando se leva a epidural.

" Horas? 00h41:13. Parabéns mamã". E foi nesse preciso momento que olhei para cima daquele pano verde e o vi. O meu mundo parou naquele instante e uma lágrima escorreu-me pelo rosto. O imenso cabelo. Os olhos rasgados e o beicinho de zangado por o terem tirado do quentinho da mamã. O meu mundo parou e soube que a partir daquele instante nada na minha vida, e na do pai, seria igual. Levaram-no. Enrolaram-no num pano e voltaram a trazê-lo para o poder beijar. Para o poder cheirar. Chorei e ri ao mesmo tempo. Ele chorava de zangado.

Enquanto fui cozida, fez o contacto corpo a corpo com o pai, que aguardava pacientemente na sala dos pais. Sempre muito calmo o meu F. Aconchegou-o e deu-lhe os primeiros mimos. Depois chegou a minha vez de o aconchegar com a maminha (e que fome que ele tinha!).

Não foi um parto fácil nem uma estadia fácil no hospital. As cesarianas têm uma recuperação difícil (pelo menos a minha foi bastante difícil); a dificuldade de movimentos entre a cama e o chão, a ausência de ajuda durante as noites no hospital (só nos privados deixam os maridos ficar de noite). São dias e noites difíceis. Mas olhar para aquele ser indefeso, que amamos tanto, que desejámos tanto, que é parte de nós, faz-nos - por momentos - esquecer todo o sofrimento.

 

Hoje, passados 8 meses, é o meu pequeno raio de sol que ilumina os meus dias, que me aquece o coração com os seus sorrisos e me derrete lágrimas de emoção e de amor sempre que se agarra a mim a pedir miminhos. Ser mãe faz-nos viver sempre com o coração fora do peito, desejar que eles cresçam ao mesmo tempo que tememos que isso aconteça e que os percamos do nosso colo para sempre. Queremos sempre mais - mais um abraço, mais um beijinho, mais um sorriso. Mas também queremos que o tempo passe mais devagar, que pudéssemos estar mais e mais tempo com eles. 

Ao longo destes 8 meses, uma certeza eu tenho tido: cada vez amo mais este pequeno ser que de mim saiu e que a minha (nossa) vida não seria nada sem ele. 

Zen

aqui tinha falado sobre as massagens. Certo é, que após aquela maravilha, nunca mais tive oportunidade de fazer uma outra. Falta de tempo (às vezes); falta de dinheiro (muitas vezes); falta de iniciativa para (quase sempre). Mas ainda bem que alguns amigos/familiares se lembram de mim de vez em quando e me presenteiam com este tipo de momentos especiais.

A massagem foi-me oferecida no ano passado. Fiquei entusiasmadíssima mas por razões alheias à minha vontade o tempo foi passando e entretanto fiquei grávida. Ainda perguntei no centro de SPA, mas disseram-me que era preferível deixar para depois do bebé nascer. Assim fiz e só agora, quase 8 meses depois fui utilizar a minha massagem. 

Já toda a gente ouviu falar de massagens com pedras quentes e com toda a certeza imensa gente já experimentou as mesmas - excepto eu até ao dia de hoje. Ora e o que podemos dizer sobre elas? O benefícios da massagem de pedras quentes inclui: alivio de stress, liberta toxinas, alivia a dor, melhora a circulação e acalma a parte psicológica. Melhor, são divinais.. O quente, o conforto, o relaxamento, a música, o óleo, tudo isto misturado com a massagem assim consegue-nos levar para outra dimensão. 

No meu caso eu diria - quase conseguiu. É que tendo o coração fora do corpo, a minha mente de recém-mamã não conseguiu recolher ao silêncio obrigatório, e mesmo já "lá longe" no relaxamento houve sempre aquela vozinha, aquela imagem do meu mais-que-tudo que não me permitia flutuar por uns segundos.

Mas que sabe divinalmente bem, ah isso sabe. Vim de lá com uma vontade extrema de me enfiar debaixo dos lençóis e dormir até amanhã. Mas eis que um "ehh ehh ehh" chama a minha atenção e me deixa de coração cheio.

Hummm, acho que o melhor é ir já de seguida utilizar o outro voucher que ali tenho, que me dizem?