Pequena
Desde pequena que sempre fui pequena. A altura nunca teve grande intimidade comigo, o que fazia com que ficasse sempre na fila da frente quando havia fotografias de grupo na escola - os mais pequeninos para a frente!!.
Aqui o problema apresenta-se com o facto de, ano após ano, a tendência nunca ter sido de grandes aumentos em direcção ao céu. Os centímos eram sempre bastante diminutos. Lembro-me da primeira vez que tirei o bilhete de identidade: 1,57m. Pensei - não é mau, dado que ainda sou uma "criança". Entretanto, passado uns anos, fui assaltada e roubaram-me a carteira. Já no novo BI a senhora disse-me - Tem 1,56m! (Não pode ser.. como é que diminuí 1cm??). Fiquei indignada, e pensei que a senhora do Areeiro me tinha enganado. Para quem é pequeno um centímetro faz toda a diferença.
Andei sensívelmente 8 anos ansiosa que chegasse o momento de voltar a mudar o BI. Tinha que haver maneira de voltar a mostrar que tinha 1,57m. Mas enganei-me, e pior que isso foi mesmo o facto de ter que reconhecer que a senhora do Areeiro não me tinha enganado e que eu sou mesmo pequena. Mentalizei-me, mas confesso que cada contacto próximo com uma qualquer máquina de medição de altura dá-me calafrios. E apesar de muito frequentemente ouvir em tom de brincadeira - Rodas baixas.. Baixota..Pequenina.. - a verdade é que há muito que uma destas palavras não me sabia tão bem ouvir.
No outro dia a D. Rosália da roupa referiu-se a mim desse modo, e ontem voltou a fazê-lo. E por incrível que pareça soou tão bem - A pequena! Soube bem porque apesar de já ser uma mulher casada; com (quase) 26 anos; com trabalho e responsabilidade de adulta, continuo a sentir-me pequena. Pequena em tamanho. Pequena no mundo de gigantes que me rodeiam. Porque continuo a gostar de imaginar que ainda consigo em certos momentos voltar a ser aquela criança pequena cheia de vida e ambições, desejos e convicções, certezas e verdades.
Hoje queria voltar a ser pequena, e ficar na fila da frente, para mais uma fotografia de escola.